camadas de céu

Bia Madruga
2 min readAug 10, 2020

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Foto: Carol Macêdo (instagram.com/carolmacdo)

eu deitava a cabeça em sua barriga e olhava para o céu e perguntava, havia mais?, havia mais céus?, o que tem depois dele?,

para mim havia camadas e camadas depois do céu, como também há de haver camadas e camadas quando se cava em direção ao centro da terra,

e eu sentia a barriga debaixo da minha nuca tremendo me indicando assim seu riso, repetido pelo despropósito, toda vez eu tinha perguntas assim a fazer.

também juntos víamos o pôr do sol da janela da lavanderia,

eu me dependurava com os braços para fora do grande vão que se fazia de janela. deveria haver grades ali, ou uma tela de proteção,

eu me dependurava de cima de um tamborete e punha meus braços para frente como que em direção ao sol, que às vezes sumia detrás de nuvens e a gente só tinha o céu de muitas cores para ver,

eu perguntava o que vinha depois dali,

“vem a noite”,

e emendou,

“depois desse céu, vem a camada de noite, de céu escuro com estrela e lua, e depois dessa camada de noite, vem uma camada de manhã, mas não a mesma de hoje, não o mesmo céu, mas sim outro céu, porque é outra camada, e esse novo céu vai mudando de cor até chegar essa hora de amanhã e, de novo, vir outra camada de céu”

“de céu de noite”, completei,

“exatamente”.

ficamos assistindo ao filme sem movimento que é o sol indo embora quando mal vemos o sol: os tons azuis no topo do céu vão se desmanchando em amarelados que dão em laranjas que dão em vermelhos que às vezes são rosados,

depois desses rosados, o sol se despede deixando por cima de si um pouco de marrom, de cor cobre que encobre o sol e guarda-o para o amanhã,

os tons azuis que se desmancharam em amarelos e laranjas e vermelhos e róseos agora são cor de noite, agora são outro céu, o de uma camada depois.

quando essa camada escura chegou, fomos fazer o jantar.

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